sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Porque defendo o legado do Governo Lula



Eu to ali atras do Lula de camisa branca e barbinha rala

Eu me mudei no inicio dos anos 2000 para a cidade de Foz do Iguaçu-PR.

Lá, junto com alguns amigos, começamos a organizar uma associação de catadores.

Fizemos uma pesquisa de campo e verificamos que os catadores enfrentavam dura realidade, explorados por atravessadores, mau vistos pela sociedade em geral, ignorados pelo poder público e sobrevivendo com um "ganho" de R$ 50,00 na média.

Em 2001, tentamos sensibilizar o poder público municipal que estava "dando" a reciclagem para a empresa concessionária de lixo, dificultando ainda mais a vida destes trabalhadores.

Como isto envolvia "negociatas" o pau quebrou, foram muitas mobilizações e e acampamentos na frente a sede da prefeitura municipal, muita briga e muita discussão. (veremos mais adiante)

Vale lembrar que em Foz há duas instituições federais de porte a Receita Federal e a Itaipu-Binacional.

Estas empresas sempre foram inacessíveis as reivindicações dos movimentos sociais. 

A concepção de "beneficiar" as pessoas mais carentes era a de doar uns brinquedinhos que foram apreendidos na fronteira. Era só brinquedinhos mequetrefes, pois os eletrônicos ninguém sabia pra onde ia. Ou melhor saber sabia só que ninguém tinha coragem de questionar...

Voltando ao assunto:

Essa luta foi até a posse do Lula na Presidência da República. 

Ao tomar posse ele indicou para a Direção Geral da Itaipu o petista Jorge Samek (que alias esta lá até hoje) e uma das determinações era que ele investisse as verbas destinadas a assistência em empreendimentos sociais, ou seja investir em programas de geração de emprego e renda.

A associação dos catadores foi incluída, dentro do Programa da hidrelétrica intitulado "Cultivando Água Boa". A primeira ação da Itaipu foi destinar todo o material reciclável produzido na Usina para os catadores. Antes a Usina vendia o material para atravessadores.

 Depois foi feito um projeto, acompanhado por um Comitê Gestor, composto por técnicos, representantes da sociedade civil, Universidades, Estudantes que acompanharam o andamento deste projeto.

Foi feito carrinhos, uniformes, um barracão foi alugado, (Eu cheguei a morar num quarto que ficava no terreno deste barracão), foi comprado prensa hidráulica e foi doado um caminhão Mercedes 1314 "azul calcinha" pra associação.

Foram feitas também varias reuniões com os catadores, realizou-se inúmeras palestras com eles, que iam de educação ambiental, saúde,até noções de transito pois eles empurravam carrinhos meio ao transito e muitos sofreram acidentes.

O Programa iniciado em Foz se alastrou pela região lindeira (as cidades que fazem margem com o lado artificial da Usina), foram criadas inúmeras associações de catadores nestes municípios, todas usando a mesma logística utilizada em Foz.

O primeiro impacto foi com os atravessadores, muitos ficaram putos, queriam por que queria acabar com essa associação, depois a prefeitura que tinha seus "negócios" com a concessionária sendo prejudicados, 

Chegamos a radicalizar o movimento, acampamos na frente da prefeitura pra forçar o prefeito a ceder as reivindicações... e na frente da empresa de lixo pra evitar que eles saíssem pra recolher o material reciclável.

Confesso que nesta radicalização, elaboramos uma verdadeira tática de guerrilha, espalhando trabalhadores na frente da prefeitura, na porta da concessionária, "roubando" o material reciclável colocado nas "lixeiras" da concessionária, etc... 

Até estilingue com saco de bolita cada um de nós tínhamos pra enfrentas a possível repressão da guarda municipal ou pra estourar os vidros dos caminhões da  empresa coletora de lixo... 

Não chegou a tanto, mas estávamos, de acordo  com as nossa realidade preparado pra enfrentar semanas nessa luta. 

Oh saudade!!

Passado a fase radicalizada, os catadores começaram a gerir sua "própria empresa".

Alguns anos depois, na época que esta foto foi tirada, os catadores, agora organizados numa cooperativa, estavam politizados, conscientes da importância de seu trabalho pro meio ambiente e pra economia do município,  a população ja via eles com outro olhar, com dignidade, estavam gerindo e ampliando sua empresa, negociavam com as industrias a venda do material e o mais importante: Sua renda havia aumentado mais de 500% (uma média de R$ 300,00).

A realidade antes assustadora,  que os fazia mendigar um pouco de comida nas ruas, agora fazia com que eles solicitassem um comprovante de renda para que possam abrir um crediário pra comprar sua geladeira nova, seu fogão seis bocas nas "Casas Bahia" da vida!

Uma curiosidade, esta foto foi tirada em 2006, Lula estava na cidade em um evento oficial com empresários.

Os catadores ficaram sabendo da agenda e se colocaram na beira da rodovia que leva ao aeroporto de Foz (Rod. das Cataratas) com  faixas... Quando a comitiva presidencial avistou os catadores, Lula pediu pra parar e foi se juntar aos catadores...


Uma senhora la presente chorando abraçou o Lula. Ela lhe disse que ele ajudou a salvar sua neta das drogas, pois com o trabalho e com renda conseguida pela reciclagem ela deu melhores condições a ela, evitando seguir o exemplo da sua irmã...

Emocionante!

Infelizmente Lula chegou tarde para a outra neta!

PS. 

A maioria destas pessoas a quem eu achava pretensiosamente, que ensinava, me ensinaram muito. 

Várias vezes eu ouvi eles dizerem que não queriam esmolas, que eles podiam de acordo com sua realidade, partir pro mundo do crime, mas optaram por trabalhar "com o lixo" pra dar de comer aos seus.

Em tempo: 

Amigos que fizeram parte desta história:

André Alliana
Dilto Vitorassi
Mirthinha
Matink
Romildão
Angela, Roseli, Rosani (Professoras de educação ambiental que sempre andavam juntas)
Olivério
Seu Clementino
Prof Marli
Jorgito
Celso
Zé Lopes
Estevan
Vera
Arildo (in memorian)

e muitos outros que eu não vou lembrar agora, depois se alguém se lembrar acrescente nos comentários)


É por isso que eu defendo tanto o governo Lula e agora o governo Dilma!

Pela dignidade que vi na cara de cada um dos catadores que conheci!

Pela dignidade que aprendi a ter...

Pela dignidade que foi proporcionada apenas pela vontade política de um país "investir em seu povo"

Pelo imenso orgulho de fazer parte desta história


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