terça-feira, 30 de outubro de 2012

São Paulo: Fernando Haddad diz que relação com governador tucano será republicana



Prefeito eleito de São Paulo diz que é preciso usar o imposto de maneira inteligente para que os empresários ajudem a organizar a cidade de maneira equilibrada


O prefeito eleito pelo PT em São Paulo, Fernando Haddad, concedeu na tarde desta segunda-feira (29) sua primeira entrevista coletiva após a eleição. Nela, com seu estilo ponderado e diplomático, falou do seu relacionamento com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), com o prefeito Gilberto Kassab (PSD) e de algumas propostas de seu programa de governo, como a reforma urbana.

Sobre Alckmin, o novo prefeito da capital disse que em encontro que teve com ele há alguns anos em seu gabinete no Ministério da Educação, pareceu-lhe “uma pessoa sinceramente interessada em aproximar-se, buscar entendimento”. Nesta terça-feira (30) ocorre o primeiro encontro entre o prefeito eleito e o governador de São Paulo.
Haddad falou ainda como será seu relacionamento com setores da cidade que votaram em Serra. “Fizemos o modelo de governo para todos, e é isso que pretendo fazer, obviamente que com uma atenção aos que mais precisam do poder público”, disse.
Leia os principais trechos da entrevista do prefeito eleito
Reforma urbana
“Precisamos garantir mais moradia nos bairros onde há emprego, e mais emprego nos bairros-dormitório. Há uma extensa legislação a ser alterada, a começar do plano diretor, passando pelo Código de Obras, Lei de Zoneamento, o próprio sistema tributário municipal. Precisamos usar o imposto de maneira inteligente para os empresários nos ajudarem a organizar a cidade de maneira equilibrada, e isso é uma providência que precisamos aprovar no primeiro ano de gestão, porque é muito importante o valor e a força do recado das urnas. Precisamos fazer a reforma urbana que a cidade precisa. A rigor desde os anos 1970 a cidade está à espera dessa reforma urbana. É a primeira vez que a cidade discute o desenho urbano numa eleição.”
Estrutura de governo
“Na campanha defendi a criação da Secretaria das Mulheres e da subprefeitura de Sapopemba. Mas não descarto a possibilidade de outras mudanças que vamos analisar a partir da semana que vem. Aquilo que foi prometido na campanha será feito.”
Segurança e subprefeituras
“Fomos nós que criamos a secretaria de segurança. Ela foi desativada e depois reativada. Eu pretendo mantê-la, portanto. Ela terá um escopo novo. Pretendo reforçar o caráter comunitário, tanto da Guarda Civil quanto da Operação Delegada. Haverá uma abrangência delas, e sobretudo nesse momento em que vivemos uma sitiuação difícil em São Paulo, a atuação setorial dessas corporações sob comando do prefeito terá um impacto positivo nas comunidades que hoje vivem uma insegurança muito recorrente. Mas é uma ação complexa, não é uma ação envolvendo uma ação só com a presença física da polícia, mesmo que com caráter comunitário, mas também a ação social e de monitoramento, um conjunto de ações que vão trazer uma sensação de segurança maior. Queremos uma reconciliação de São Paulo com o Brasil, porque é essa reconciliação que vai permitir que a periferia se reconcilie com o centro. Posso assegurar que uma coisa tem muito a ver com a outra. Se soubermos aproveitar as oportunidades que os programas federais nos apresentam, vamos reduzir as desigualdades dentro da nossa cidade.”
“A presidenta Dilma me pediu pra me encontrar com o ministro Guido [Mantega, da Fazenda], de quem fui assessor no Planejamento, e estabelecer com ele uma dinâmica de trabalho e explorando todas as possibilidades de fortalecimento da parceria com o governo federal em São Paulo. Nós teremos efetivamente um tratamento de metrópole, estratégico para o desenvolvimento do país.
Diálogo com os eleitores do Serra e PSDB e setores refratários ao PT
“Nós crescemos em todos os bairros em 2012, independentemente da questão numérica. Inclusive, desde 2000 não crescíamos no centro, e fincamos uma bandeira na Santa Ifigênia. Pra mim é muito significativo, por razões históricas. Então a cidade está aberta ao diálogo. Fizemos o modelo de governo para todos, e é isso que pretendo fazer, obviamente que com uma atenção aos que mais precisam do poder público, mas também aos que dependem menos, porque têm uma agenda de cidadania: a questão ética, a ambiental, qualidade de vida, cenário urbano, do sentir-se seguro, da cidade como lugar de encontro, de conhecimento, de cultura, isso tudo está na agenda, e nosso plano de governo dialoga com esses setores.” 
Santa Ifigênia e Nova Luz
“Tenho muito apreço pela região central da cidade, porque além de trabalhar na rua 25 de março eu frequentava o Brás e o Bom Retiro com um mostruário debaixo do braço. E entendo que elas dão enorme contribuição para a cidade, atraindo turismo de negócios praticamente do Brasil inteiro e até da América Latina. Podemos fazer um bom trabalho com moradores e lojistas para requalificar essas regiões, inclusive de rede hoteleira, ônibus intermunicipais, fretados ou não, tudo isso precisa ser trabalhado. Pretendo ter uma interlocução muito direta com associações de moradores e lojistas para estabelecer um tratamento adequado.”
Morador de rua
“Vamos ter de recuperar uma parte de um trabalho que vinha sendo feito e foi interrompido em relação a uma abordagem intersetorial desse morador, um indivíduo com uma situação muito diferenciada. Precisamo acolher, e libertar, de certa maneira. Aí os programas federais vão ter um peso muito importante. Há muitos idosos de mais de 65 anos muito pobres que não estão cadastrados no programa Benefício de Prestação Continuada, que garante um salário mínimo a todo brasileiro nessa condição. Essa é apenas uma medida que pode ser tomada em benefício de alguns milhares de idosos que não sabem que têm esse benefício.”
Kassab, transição e participação na base aliada
“Tudo aquilo o que estava sendo discutido com a prefeitura na gestão Gilberto Kassab e de José Serra vamos dar continuidade. Não vamos renunciar a nenhum real da cidade porque é um direito do cidadão. Kassab está há longo tempo num movimento de aproximação com o PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Não sei no que vão resultar essas tratativas nesse momento pós-eleitoral com partidos próximos à presidenta Dilma. Vamos aguardar. Quanto aos vereadores do PSD, conheço alguns e sei que votariam em projetos importantes para a cidade.”
Encontro com Geraldo Alckmin
“Tenho a melhor expectativa em relação ao encontro com o governador. Tive a oportunidade de recebê-lo em meu gabinete no Ministério da Educação, quando ele era secretário do então governador José Serra. E eu vi uma pessoa sinceramente interessada em aproximar-se, buscar entendimento, buscar convergência. Ele esteve no meu gabinete com humildade e teve seu pedido atendido. Esse tipo de gesto, dele em primeiro lugar, e meu, deixa suas marcas de um espírito republicano. Não colocarei nenhum interesse acima do interesse público no diálogo com ele.”

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