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O espaço era o banheiro de um ônibus. Nove homens se revezaram. Enquanto um imobilizava a vítima, o outro a violentava. No sofá do lado de fora, a outra vítima recebia o mesmo tratamento. A sessão durou até que os nove homens se dessem por satisfeitos.
A história poderia ter permanecido trancafiada na memória das duas meninas, aterrorizando apenas a elas, como acontece com muitas vítimas de estupro. Mas elas tiveram muita coragem e força: denunciaram os criminosos.
A reação de muitas pessoas foi espantosa. “Elas quiseram”, “ninguém mandou entrar no ônibus”, “elas gostaram”, “usavam roupas curtas”, “vadias”, disseram alguns. Escutei argumentos ainda mais assustadores, como: “mas elas nem se debateram”, “se não quisessem, teriam reagido, mas os caras saíram sem nem um arranhão”. A onda de comentários culpando as próprias vítimas foi muito maior que a de pessoas questionando os agressores por seu complexo de semideuses e o absurdo de quererem ter autonomia sobre os corpos alheios. O choque pela denúncia foi maior do que o choque pelo crime em si.
Ainda não mencionei os fãs da tal banda – homens e mulheres – com suas campanhas pela soltura dos criminosos. Nem falei sobre as ameaças de morte que as vítimas e seus familiares sofreram, a ponto de precisarem do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte.
No decorrer do processo, após a violência física, as meninas fizeram exames para provar o que diziam. E comprovaram. O laudo médico constatou, entre outras coisas, fissura no intróito vaginal. Isso significa, em outras palavras, que elas foram rasgadas por dentro. Literalmente.
Os mocinhos foram pra cadeia e passaram 38 dias lá. Com o segundo habeas corpus, foram soltos. E já têm um show marcado! Num período de menos de dois meses, os caras (que não eram ninguém, diga-se de passagem) destruíram a vida de duas pessoas, ficaram nacionalmente conhecidos por isso e foram premiados com uma reestréia-monstro patrocinada por uma das maiores marcas de cerveja do país. Yay!
E as meninas? Continuam escondidas, numa espécie de prisão, para se proteger das ameaças. Afinal, “ninguém mandou”, né?
Os apelos populares fizeram com que a Skol retirasse o patrocínio antes do fechamento desse texto. Mas só por pressão mesmo. Isso não faz da marca uma heroína: a Skol não deveria sequer ter cogitado essa possibilidade! O que você pensa sobre esse caso?
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